A Polêmica marcação do 18.4 (Crossfit Open)

O Open 18.4 se foi deixando pouca ou nenhuma saudade para a maioria das pessoas que viram seu lindo handstand push up ser massacrado pela nova marcação. Sim, a maioria de nós, mortais, odiou  a nova marcação. Mas…Há motivo para isso? Seria culpa do Tio Dave e da CrossFit? Da nossa anatomia a qual nada podemos fazer? Ou seria culpa de nós mesmos?

Devido a tamanho barulho, a CrossFit logo se apressou a publicar um artigo sobre o novo padrão. Principalmente depois que a comunidade se regozijou ao ver o próprio Dave Castro em sua conta no instagram, mostrando o dedo do meio para a linha de marcação.

 No texto intitulado “How to cheat in HSPU” ou, “Como roubar no HSPU”, a CrossFit não necessariamente escreve para aqueles que propositadamente diminuíram a linha (como vimos em lives e instagrams por ai), ou que encurtaram seu pescoço ou mentiram descaradamente nos scores. Ela escreve para todos nós que no dia a dia somos descuidados com nossos movimentos e não mantemos uma boa posição, porque estamos buscando sempre fazer rápido, e não necessariamente bem feito.

Um dos motivos alegados no texto, que tornou o processo de ganhar reps difícil, foi a abertura das mãos. Quanto maior a abertura das mãos, menor é a altura que você irá atingir na parede na parada de mão. De acordo com a coach de CrossFit e de Circo, Luiza Santini, “Se você respeitar o triângulo que fazemos na parada de cabeça, com a largura das mãos sendo a mesma que a largura do antebraço, a marcação não seria um problema tão grave.”

O ex-ginasta e atleta de CrossFit Rafael Kilipper concorda com outros importantes pontos do texto: a ativação escapular e a linha média negligenciada. “Ginástica é virtuosismo, com movimentos longos e alongados. Quem treina assim não sentiu dificuldades” – diz ele. No vídeo que ele nos mandou a seguir, é possível verificar a brutal diferença que a ativação dos ombros faz na hora de passar o pé da linha marcada.

Quando os entrevistados foram indagados sobre a hipótese aventada pelo grande atleta Francisco Javier, o Chiquinho, que comentou uma conversa com o seu fisioterapeuta sobre o tamanho do braço, nenhum dos dois afirmou que isso pode de fato influenciar ou não. Para quem não viu, o fisioterapeuta do Chiquinho pediu para ele esticar o braço acima da cabeça, se o cotovelo ficasse acima da cabeça, não se teria problemas na marcação. Se ficasse abaixo, teria. Isso poderia implicar que a performance seria mais ou menos prejudicada por uma característica anatômica. Quem concorda com isso é o atleta Jacob Heppner (que ficou entre os top 10 no CrossFit Games em 2015 e 2016). Em sua conta no Instagram ele alega que por não ter uma boa razão do comprimento de seu braço/antebraço, ele fez apenas 104 reps nesse treino e está fora dos regionais.  Para um atleta como ele, do nível dele, ter sofrido tanto é complicado. Mesmo tendo finalizado todas as 45 reps exigidas, isso pode forçar uma revisão do padrão.

Vale lembrar que isso não é normal no CF. Pessoas mais altas se dão melhor no remo, rope climb, wall ball. Pessoas mais baixas se dão melhor no levantamento de peso, burpee e outros movimentos de menor extensão. Mas nunca uma diferença na anatomia gerou tanta polêmica.

Os dois entrevistados, no entanto, atribuíram dificuldades encontradas à grande maioria da população mais à nossa falta de forma de execução do movimento e também a uma necessária mudança de percepção corporal para fazer o calcanhar passar, que é o ato de apontar a ponta do pé para baixo. “A ponta de pé é uma referência de alinhamento e direcionamento da parada de mãos, além de manter suas pernas mais firmes e consequentemente mais leves pra fazer o HSPU por consequência do tônus muscular que você faz automaticamente no quadríceps. Mas você pode ter o mesmo tônus com os pés flexionados, é uma questão de consciência corporal. O problema é que ginástico mesmo não utiliza parede, então precisa de mais alinhamento e ponta de pé para direcionar a parada de mãos para cima e não para trás” – de acordo com Luiza Santini.

Rafael Kilipper concorda e acrescenta: “No hold é para ganho de controle, coordenação, equilíbrio, então eu faço o mais vertical possível. Uma coisa é hold e outra é hspu entende?”. Além disso ele salienta: “Uma coisa é eu treinar handstand walking, outra é competir, quando busco performance eu o deformo. Cargas máximas não devem ser levadas em conta alguns padrões por que é performance, a busca técnica está nos treinos.”

Talvez o puxão de orelha que tivemos no 18.4 com o HSPU sirva de fato para prestarmos mais atenção nos treinos. Não é apenas sobre ganhar do coleguinha, mas fazer da melhor forma e da mais técnica possível. Assim, quando chegarmos nas competições que exigirão apenas o cotovelo esticado e calcanhar na parede, possamos ir melhor e mais rápidos. Quando as competições exigirem o mesmo padrão do Open 2018, aprendemos a lição. Assim, no ano que vem, quando chegar o open novamente, possamos mostrar que em 2018 priorizamos a técnica e a chuva de NO REPS fará parte do passado.

 

Luiza Santini é bacharela em educação física pela UTFPR, Especialista em atividades acrobáticas do circo e da ginástica PUC- PR, CrossFit lvl 1 e professora de circo da escola CircoCan.

Rafael Nunes Kilipper foi atleta de Ginástica artística profissional por 12 anos, 4 anos técnico e árbitro de Ginástica, Top 10 tcb 2016, bi-campeão etapata Sul seletiva TCB, segundo colocado monstar games 2017 (times) e criador do IRC gymnastic.

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