Eu conheci o Lucas Pusch e toda sua família quando passei um tempo treinando com a Anita Pravatti, lá na CrossFit Pravatti. Já o havia visto competir no TCB de 2017, onde garantiu o segundo lugar atrás de Gui Malheiros que tinha voltado dos CrossFit Games. Mas só o conheci mesmo nessa época. Confesso que fiquei impressionado com ele. Aos 17 anos, ele já tinha 245 lbs de snatch e 297 lbs de clean and jerk e um cardio absolutamente invejável. Além de um objetivo certo: chegar nos CrossFit Games de 2018. Por isso, de tempos em tempos ele ia para Campinas treinar junto com Anita e o coach Alberto Neto. Ele e a família toda. Por que é impossível conhecer Lucas Pusch e não conhecer sua família. Todos estão sempre ali, dando apoio, incentivando e encorajando o filho no objetivo maior dele. Tanto que sua própria mãe o ajudou enquanto ele vomitava após realizar o 18.5. É esse tipo de dedicação dele e apoio da família que, creio, criou a fortaleza que permitiu a classificação para os CrossFit Games de 2018 na categoria Boys 16-17. Acompanhei ele fazendo alguns WODs do Open na Pravatti e fiz ele me prometer que daria a primeira entrevista após a confirmação da classificação. E é essa que segue:
Nome: Lucas Faria Pusch
Box: Crossfit Fratelli
Tempo que treina: 4 anos e meio
Benchmark favorito: Fran
Ponto forte no CrossFit: provas de explosão e levantamentos de peso
Ponto fraco no CrossFit: HSPU
HC: Primeiro de tudo, parabéns pela classificação para os CrossFit Games! Vamos começar do começo mesmo….como você conheceu o CrossFit?
LP: Muito obrigado pela oportunidade de compartilhar minha historia com vcs! Bom… tudo começou com a minha mãe, um primo nosso, que estava em Miami na época, enviou um video de umas pessoas correndo com toras, virando pneus, subindo em cordas (videos bem do estereótipo de crossfit), a partir dai minha mãe que fazia funcional com a minha coach (Lorena Landin) começou a adaptar treinos de crossfit em uma academia de condomínio. Em paralelo eu estava com sobrepeso e por isso sofrendo alguns episódios de bullying na escola, e decidi então que precisava emagrecer, foi quando comecei a treinar com a minha mãe. Não era Crossfit como conheço hoje, mas foi lá que tudo começou. Nessa época eu nem sabia pular corda hahahaha
HC: Para aos 17 anos estar classificado para os CrossFit Games, rapidamente devem ter percebido o seu talento, correto? Quando e como foi que você e seus coaches pensaram que você ia se tornar um competidor de CrossFit?
LP: Depois de dois anos fazendo o Open e tendo alguns resultados muito bons como: 41o no mundo, 5o na America Latina e 2o no Brasil, eu e minha família percebemos que existia, sim, uma chance de conseguirmos chegar ao CF Games, porém não só com o treino da lousa. Então fomos procurar meios de me capacitar para chegar a um nível competitivo. Na mesma época a Lorena Landin estava inaugurando a Crossfit Fratelli e me convidou para ser atleta por lá. Como ela já havia sido atleta ela sabia como poderia conduzir minha periodização para competições. A partir desse ponto sabendo do meu potencial, determinação e do meu desejo de chegar lá começamos a investir na minha evolução. Ë importante frisar que nesse ponto tive uma conversa com meus pais onde decidimos levar o CF como trabalho e não só como um hobby. Os treinos não seriam mais um ‘lazer’ seriam pra valer. Na maioria das vezes eu treinava sozinho e não mais com a galera do horário, o que exigiu de mim um amadurecimento como pessoa e atleta.
HC: Você tem um família espetacular (sim, tive o prazer de conhecer todos já e treinei com todo mundo) que faz CF também, pai, mãe, irmão…todo mundo. Quão importante é o papel da sua família nessa sua empreitada e conquista?
LP: Eles são incríveis! Estão em todas competições, participam dos meus treinos, decisões, me ajudam com planilhas de performance, analise de dados e muitas outras coisas não só relacionadas a treino. Fazendo uma comparação, me vejo como uma casa em cima de um rio e eles como os pilares que não me deixam cair na agua, me dando todo apoio e suporte. Me sinto privilegiado por eles terem embarcado nesse projeto junto comigo. Do tipo da casa inteira fazer dieta pra me incentivar ou ainda todos treinarem durante as viagens de férias para que pudéssemos estar todos juntos e eu não abrir mão dos meus treinos.
HC: Como que tem sido esse seu preparo? Você tem um coach para você? Como que é a sua rotina de treinos?
LP: Por estudar no período da manhã, meu treinos costumam começar 16h00 e ir até as 19h30, porém nas férias consigo fazer duas sessões de duas horas cada, uma no período da manhã e outra no período da tarde. Desde o final do qualifier 2017 minha coach fez a periodização para equilibrar meus pontos fracos com os pontos fortes, mas dando um enfoque nos movimentos que costumam cair no open e no qualifier. Hoje conto com o apoio de dois coaches, Lorena Landin e Alberto Neto. Ambos fazem a minha planilha e meus wods, trabalhando de forma conjunta. E durante minha preparação minha mãe que é psicóloga acabou se especializando em psicologia do esporte, e me ajudou a desenvolver um mindset que me ajuda muito.
Além disso, Nas minhas férias tive a oportunidade de treinar algumas semanas com a Anita Pravatti, uma experiencia que me ajudou na minha evolução pessoal. Treinar com ela foi algo único, que me ensinou lições que eu jamais aprenderia sozinho, porque alem dela ser uma superatleta ela é uma pessoa que não tem problema nenhum em ensinar, compartilhar conhecimento e estratégia e de mostrar como se faz.
HC: Você vai estar lá no meio de vários atletas importantes e que provavelmente admira. Cite dois atletas que você admira, quer encontrar, e por que?
LP: Quero encontrar todos! Escolher dois fica difícil hahahahaha mas acho que seriam Marcus Filly e Josh Bridges. Filly pelo trabalho que ele faz em termos de treino, um dos mais diferenciados na minha opinião. Bridges pela sua história de vida e seu jeito de encarar os games.
HC: O Brasil tem tido uma boa história nas categoria teens, com Luiza Marques (que vai pela terceira vez) e Gui Malheiros. Como que você vê isso? Acha que o segundo lugar do Malheiros no CrossFit Games ano passado põe uma pressão extra em você?
LP: Não vejo como pressão, mas sim como prova que não é impossível chegar lá. No TCB do ano passado tive a oportunidade de competir com o Malheiros, na sua volta dos games, pude sentir a pressão de estar na arena com um dos melhores do mundo, e vejo essa experiencia como algo que me fortaleceu e me da confiança de chegar ao CF Games querendo brigar de “igual para igual” pelo pódio.
HC: E o futuro? O que será de Lucas Pusch daqui a 5, 10 anos? Pretende seguir atleta? Morar fora para ganhar experiência? O que podemos esperar?
LP: Não me vejo fazendo outra coisa além do CF. Hoje ser atleta é minha profissão e enquanto eu estiver apto de pratica-la não pretendo mudar, mesmo porque seguir dieta, treinar todos os dias, controlar sono etc. que para muitos é um problema, pra mim é muito confortável. E daqui 10 anos vou ter só 27 e espero já ter passado pelo CF Games na categoria adulta. Quanto a morar no Brasil ou não vai depender das oportunidades que forem surgindo ao longo da minha carreira.