Existe um fator comum para os espectadores e atletas participantes de competições nacionais, o qual parece de fácil resolução, mas não é: O padrão de movimento variado entre competições.
A maioria dos competidores vai ao campeonato apenas com a instrução de movimento de seu coach, deixando de lado os briefings e a leitura das regras. Essa falta de empenho por parte do competidor acaba se tornando um problema. O coach ensina as regras básicas de movimento, levando em consideração a técnica mais adequada ao condicionamento do aluno, a maneira mais didática e pensando em preservar a saúde do aluno. Ou seja, são regras e métodos pedagógicos.
Para uma competição, as regras são especificações necessárias para que o atleta cumpra o mesmo movimento que o outro. Prezando pelo padrão comum a todos. Isso envolve saber onde o movimento começa, onde termina e o que não pode ser feito. Não importa qual técnica vai ser usada, se o atleta vai se machucar (o que nenhuma competição deveria almejar), se ele vai se sentir chateado ou se ele está na categoria errada.
Mas vamos começar pelo obvio, por que não usamos as regras do CrossFit Games?
- Primeiro: no curso oferecido para Judges, a Crossfit não ensina a arbitragem e regras para times, duplas, trios, movimentos scales e intermediários, cenário que é o mais comum nos campeonatos nacionais.
- Segundo: ainda no curso oferecido, a CrossFit deixa bem claro que aquelas são regras “standard”, regras básicas, e que podem ser modificadas por eles mesmos ou pelo campeonato, desde que especificadas.
- Terceiro: as regras se aplicam a exercícios básicos e que podem ser utilizados no OPEN, não incluindo outros, os quais aparecem no CrossFit Games. Sendo, então, um curso, deveras, incompleto.
- Quarto: a estrutura e intuito de provas entre campeonatos difere muito. Sendo necessário modificar o padrão para que o movimento ou prova seja de mais fácil julgamento ou de melhor dinâmica.
Fora essas inúmeras justificativas, devemos lembrar que a base do CrossFit é a variância de estímulos. Vemos isso no próprio Games, com movimentos inovadores (como o da foto durante o CrossFit Games de 2021 onde os atletas fizeram um Freestanding HSPU), nunca imaginados em competição. Portanto, criar regras novas ou padrões novos para um evento é o que mais devemos esperar. Contudo, cabe ao atleta se manter atento a briefings e regras.
Se o atleta que se depara com um padrão novo tem que se adaptar, a arbitragem também deverá fazer o mesmo. Por mais que hajam cursos espalhados pelo Brasil, com intuito de deixar árbitros mais bem preparados, eles deverão se informar ou ser informados sobre como o campeonato definiu os padrões e se adequar. Seja exigindo um novo posicionamento na arena, uma nova sinalização, vários “no rep” possíveis (sim, tentamos antecipar as “malandragens” de atletas) e contagem.
Para piorar um pouco o cenário que poucos enxergam, a maioria dos campeonatos não oferecem um treinamento para o evento em questão. Deixando o mesmo briefing de atletas, para os judges. E esses mesmos campeonatos, exigem um desempenho exemplar do judge. Lembrando que o judge também pode errar como toda pessoa normal.
Em 2020, a BrasiF3, parte da Internacional Functional Fitness, juntou vários judges e Head Judges do Brasil para montar uma cartilha básica de padrões, que facilitaria a vida de atletas, organização e arbitragem. Fato muito interessante, que é aplicável a BrasilF3, pois essa se enquadra como Federação Esportiva.
Mas, e a CrossFit? A CrossFit é uma empresa privada, bem como o CrossFit Games.
O que difere? A Brasil F3 pode exigir que todos os campeonatos dela tenham o mesmo padrão. É isso ou estão fora do calendário da federação.
A CrossFit.com não pode fazer o que os campeonatos sigam o padrão dela, pois, nem o nome dela, elas podem usar, a não ser que paguem por isso. Resta a eles gerar um exemplo.
Ao telespectador cabe torcer a fim de incentivar seu atleta, se informar de regras e ser mais educado com os judges do lado de cá, que estão fazendo o seu melhor para defender o interesse de todos: uma competição justa. Mas vale lembrar que são humanos e, portanto, passíveis de equívocos. Mas isso será um tema de uma próxima coluna. Por enquanto, vale lembrar: como não temos uma solução para essa disparidade de padrões e regras, que os atletas se informem antes de culpar os judges, e que os judges se adequem para minimizar erros.