Uma reflexão sobre a off-season dos Games

Por Robson de Moraes
Análise do que aconteceu entre os meses de agosto a janeiro, a chamada off-season dos CrossFit Games.

No dia 29 de fevereiro, começa oficialmente a temporada dos CrossFit Games com o Open e, consequentemente, termina a off-season. Para quem não sabe, a temporada regular é o período que inicia com o Open, passa pelas Quartas e Semis, e termina nos Games, aproximadamente entre Fevereiro e Agosto. O restante do ano é a Off-Season, que podemos traduzir como torneios fora de temporada. Nessa lista entram, por exemplo, o Rogue Invitational, o Dubai Fitness Championship e o Wodapalooza. Hoje, vamos falar desse período. Para esta análise, considerarei o Madri Championship, o TCB – essencial para os atletas brasileiros, o Rogue Invitational, o Dubai Fitness Championship e o Wodapalooza.

Madri e TCB

No início de setembro, tivemos, no mesmo final de semana, o Madri e o TCB. Na Espanha, o pódio foi de Karin Freyová, Anikha Greer e Emilie Lundberg, no feminino, e Jonne Koski, Travis Mayer e Lazar Dukic, no masculino. Neste torneio, tivemos a participação de Victoria Campos, que comentou estar doente e acabou em 27ª posição. No Brasil, no TCB, os pódios foram de Fernanda Dotto, Emily Andrade e Gabriella Luque, no feminino, e Anderson Primo, Pedro Martins e Henrique Moreira, no masculino. Estes dois torneios ocorreram um mês após os Games. Para os atletas do Madri, foi mais uma chance de seguir alguma periodização ou participar de um torneio após umas férias pós-Games. Acredito que ninguém considerou este resultado como determinante na temporada. Ao mesmo tempo, foi um bom momento para se redimir de alguns aspectos pós Games que não saíram como esperado.

Karin Freyová sempre participa de vários torneios, e este foi mais um bom resultado para ela. Quem acompanha de perto verá que ela marca presença em vários campeonatos europeus. No lado masculino, o grande destaque foi o título do Jonne Koski, especialmente considerando que ele levou a melhor na disputa contra Lazar Dukic, um adversário de semifinal e dos Games. No entanto, isso não determina resultados futuros.

Sobre os brasileiros, os atletas do TCB não estavam nos Games, exceto Henrique Moreira, que disputou com o time da Templo SA. Assim, o foco maior era o TCB e o resultado para eles é importante porque representava o pico da periodização para a maioria.

Anderon Primo teve um resultado sensacional, conquistando seu sexto título, mostrando que sabe “jogar” a competição. Não há dúvida que ele se destaca nesse torneio, mesmo com a mudança do programador. Torneios longos são realmente bons para ele. No entanto, ainda temos uma dúvida para a temporada, mas falarei mais sobre isso ao mencionar o Wodapalooza.

Pedro Martins e Henrique Moreira também tiveram bons resultados no torneio. Pedro Martins, que não poderá participar do Open 2024 devido a uma suspensão, conseguiu um resultado importante para se manter ativo e preparado para 2025. Henrique Moreira, considerando seu retorno recente dos Games, teve um ótimo desempenho, lutando pelo primeiro lugar até o final. Ele anunciou que tentará a vaga no individual este ano e mostrou potencial para estar entre os melhores na Copa Sur.

No feminino, Fernanda Dotto e Emily Andrade foram os grandes destaques. Ambas demonstraram estar consolidadas no cenário nacional e com potencial para brigar por uma vaga nos Games. Fernanda Dotto mostrou grande evolução nos ginásticos. Se em 2019 ela perdeu o pódio por causa da final com 30 ring muscle ups, este ano o ginástico ajudou a consolidá-la no lugar mais alto. Emily teve que esperar até a última prova para mostrar sua eficiência nos ginásticos, o que a garantiu mais uma vez no pódio do TCB.

O resultado de Victoria Campos, em Madri, deve ser desconsiderado desta análise, visto que ela estava doente durante o torneio e teve um desempenho bem abaixo do esperado.

Rogue Invitational

O Rogue Invitational ocorreu em outubro e teve como grande destaque o retorno da Tia-Clair Toomey após a gravidez. Tivemos a primeira disputa entre Tia vs Laura após Laura ganhar os Games. Além disso, assistimos ao primeiro reencontro da nova rivalidade entre Adler e Krennikov.

O torneio no Texas contou com vários nomes conhecidos, como sempre, mas foi marcado pela chuva, que modificou e adiou várias provas. O pódio ficou com Laura, Tia e Emma Lawson, no feminino, e P. Vellner, J. Adler e R. Krennikov, no masculino. Não tivemos brasileiros competindo.

Laura provou que consegue vencer Tia-Clair, atingindo um grande marco no torneio. Ficou evidente que Laura estava determinada a provar que não ganhou os Games apenas porque Tia-Clair não estava. Ela conseguiu mostrar isso na arena, embora tenha sido uma vitória apertada na última prova. Tia-Clair, competindo apenas 5 meses após o parto, mostrou dificuldades em provas que normalmente não teria. A grande disputa será nos Crossfit Games desse ano.

O resto do leaderboard feminino também foi interessante: Lawson (3ª), Migala (4ª), Gazan (5ª), Cary (6ª), Brandon (7ª) e Loewen (8ª). A competição no feminino estava acirrada e a próxima temporada promete um Top-10 de alto nível.

No masculino, Vellner conquistou o título de forma discreta, superando Adler e Krennikov. Foi um excelente resultado para Vellner, mostrando que ele pode vencer esses atletas, embora nunca tenha ganhado um título dos Games. Além dos três, Fikowski ficou em quarto e Garard em quinto.

Dubai

Em dezembro ocorreu o Dubai, com a participação de quatro brasileiros: Kaique Cerveny e Kalyan Souza, no masculino, e Julia Kato e Luiza Marques, no feminino.

Kaique e Kalyan tiveram desempenhos parecidos, alcançando o 12º e 13º lugares, respectivamente. Ambos ficaram próximos de fazer a final, mas não conseguiram. Contudo, o resultado foi positivo, trazendo experiência no cenário internacional. Para ilustrar, eles ficaram à frente de Chandler Smith e Jorge Fernandez (atual campeão dos Games em times).

O pódio masculino foi de Khrennikov, Garard e Lazar Dukic, e no feminino, de Karin Freyová (novamente), Andrea Solberg e Claudia Gluck.

Khrennikov não teve dificuldades para conquistar o título. Ricky Garard cometeu erros em algumas provas no primeiro dia, permitindo que Khrennikov abrisse uma vantagem difícil de ser alcançada.

No feminino, Karin Frey dominou e conquistou mais um título. Julia Kato ficou em 18ª e Luiza Marques em 25ª. Julia teve um desempenho consistente e, considerando o nível do leaderboard, foi um bom resultado. Ela conseguiu um segundo lugar em uma prova e tem tudo para brigar por uma das vagas sul-americanas. Ela veio lesionada em 2023 na Copa Sur e, se estiver bem novamente, será uma forte concorrente para a vaga em 2024 para os Games.

Quanto à Luiza Marques, ficou a sensação de que ela poderia ter ido um pouco mais longe, com alguns pontos a serem ajustados para buscar ao menos um Top-20.

Wodapalooza

No Wodapalooza, tivemos a competição individual e em times, além da novidade do Latam Cup. Aqui, focarei mais no individual e no Latam.

No individual, o pódio foi composto por Emma Cary, Gabi Migala e Danielle Brandon no feminino, e por Garard, Fikowski e Samuel Kwant no masculino.

No Latam, o pódio teve Mariana Meza, Paulina Haro e Emily Andrade no feminino, e Alejandro Trillos, Vinicius Stoelben e Roldan Goldbaum no masculino.

Na elite individual, o grande destaque foi Emma Cary, que mostrou seu potencial para vencer torneios de ponta e, quem sabe, até os Games. Ela é uma presença constante nos líderes dos rankings, mas nem sempre recebe a atenção que merece, principalmente por ser uma atleta jovem.

No masculino, Garard conquistou um título importante, reforçando sua capacidade de vencer os Games, principalmente porque enfrentou muitos dos atuais concorrentes no Wodapalooza, com exceção de Medeiros e Adler.

Quanto aos brasileiros, Gui Malheiros, Kaique Cerveny, Kalyan Souza e Gui Domingues competiram na elite. Malheiros obteve um excelente 9º lugar, o que é um bom resultado geral, e ainda mais significativo pensando nas vagas sul-americanas, já que Kaique ficou em 23º e Kalyan em 25º. É importante lembrar que são torneios da off-season e cada atleta está em um momento diferente de sua preparação, mas Malheiros conseguiu se destacar entre seus concorrentes diretos neste torneio.

Kaique e Kalyan provavelmente ficaram com uma sensação de gratidão, mas não totalmente satisfeitos. Eles tiveram um desempenho razoável, mas certamente esperavam mais. Em Dubai, ambos estiveram próximos do Top-10, enquanto agora ficaram fora do Top-20. Este torneio tinha um nível mais elevado, mas eles sabem que há aspectos a serem ajustados.

No Latam Cup, os melhores resultados brasileiros vieram de Vinicius Stoelben, que ficou em segundo, e de Emily Andrade, em terceiro. Confesso que esperava mais deles antes do torneio, imaginando que disputariam com mais força pelos títulos, mas isso não aconteceu.

Alejandro Trillos destacou-se no masculino e poderá se sobressair na Copa Sur. As duas atletas que superaram Emily não competirão na Copa Sur, pois os mexicanos estão nas semifinais da América do Norte.

Ainda no Latam, tivemos Anderon em 7º, Aliadhy Bass em 5º, Fernanda Dotto em 8º e Camila Marca em 10º. Anderon, mesmo tendo vencido o TCB, enfrentou dificuldades em uma prova que incluía dips na paralela, o que o fez abandonar essa prova. Seu desempenho no restante do evento foi comprometido. Agora, é necessário acompanhar sua recuperação até o final de fevereiro para avaliar sua classificação para a Copa Sur.

Resumo Final

No cenário internacional, tivemos um título para cada um dos seguintes atletas: Vellner, Garard e Khrennikov. Medeiros venceu o WZA em times e Adler ficou em segundo no Rogue. Estes resultados indicam que esses atletas devem ser os principais nomes para a próxima temporada. Outros competidores, como Dallin Pepper, Jason Hopper, Jay Crouch e Lazar Dukic, também são destaque.

No feminino, Laura esquentou a disputa com Tia-Clair, Emma Cary demonstrou seu potencial, e o resto do grupo mostrou estar forte e competitivo, prometendo boas disputas na próxima temporada. Há muitas competidoras fortes! E ainda podemos ter o retorno de Haley Adams e Mal O’Brien.

No Brasil, a disputa pelas vagas será intensa. No masculino, os destaques atuais são Gui Malheiros, Kaique e Kalyan. No entanto, outros atletas como Henrique Moreira, Anderon Primo, Agustin Richelme – que também sofreu uma lesão no peitoral durante a prova de dips no WZA -, Bruno Marins, Lucas da Rosa, Vinicius Stoelben, e vários outros nomes têm potencial para competir.

No feminino, teremos o retorno de Lari Cunha, que, de acordo com pesquisas realizadas em meu perfil, é apontada como favorita ao lado de Victoria Campos. No entanto, a disputa pode ser imprevisível, dependendo das provas, e outras atletas podem surgir como fortes competidoras. É importante mencionar que Alexia Williams passou por uma cirurgia e não competirá este ano. Se Julia Kato retornar totalmente recuperada, ela é uma excelente candidata a ser considerada.

Autor:
Robson de Moraes
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