Mais um vez, essa semana, o problema do doping voltou à cena no CrossFit. Pela primeira vez, um competidor que finalizou no pódio na categoria individual teve o seu terceiro lugar retirado. Além disso, ele teve que devolver o premio em dinheiro e está banido do esporte pelo período de 4 anos. Ricky Garard, australiano que havia conseguido sua primeira classificação para o CrossFit Games esse ano, recebeu esta notícia na terça-feira a noite…e nós também. Ele foi pego por duas substâncias: testolone e endurobol. Além dele, outros dois atletas que terminaram no pódio também tiveram seus títulos removidos: o americano Tony Turski, segundo lugar na categoria Master Masculino de 55-59 anos e a canadense Josée Sarda, que havia terminado na primeira colocação na categoria master feminino de 50-54 anos.
Patrick Vellner, o canadense que havia ficado em terceiro em 2016 e em quarto em 2017 assumiu, portanto, e mais uma vez, a terceira colocação esse ano. Em um post no seu instagram, @pvellner admite estar feliz, mas ao mesmo tempo desapontado. Desapontado por que não pode curtir a vitória de um evento e, principalmente, o pódio ao lado da comunidade e juntamente com seu compatriota e amigo, Brent Fikowski. Ele se disse feliz por ver que a CrossFit está pegando uns peixes maiores e que mostraria que seus exames antidoping funcionam, mas triste por ver essa mancha no esporte. Pois “quando alguém trapaceia, não está trapaceando apenas o esporte, mas está trapaceando todos os atletas que sacrificaram muito para estar onde estão. Isso é triste e injusto.” – diz Vellner.
Noah Olsen, que havia ficado em 5o lugar, porém longe do pódio, também fez um post sincero no instagram, onde relata que agora perdeu o terceiro lugar por míseros 4 pontos. “Mais um lunge, mais um overhead squat, mais uma libra no snatch e eu poderia ter alcançado um dos grandes objetivos da vida.” – Noah Olsen. Como ele também relata, muitos atletas já recebem comentários como “não tem como esses cara serem limpos”…e esse episódio reforçará com certeza essa dúvida no esporte.
Muitos perguntam se a CF tem um programa de exame antidoping. E a resposta é sim, ela tem sim. Qualquer um registrado para participar de uma competição da CF pode ser testado durante a competição e fora dela. Atletas selecionados no chamado “testing pool” devem mandar relatórios de onde estarão a cada 3 meses para que seja permitido que o teste seja feito. Além disso a CF publica uma lista de substâncias proibidas todo ano.
Aparentemente, Ricky Garard não estudou corretamente essa lista. Pois ele achava que as substâncias que estava tomando não faziam parte dela (foi o que escreveu em um post no instagram). Um dos argumentos, inclusive, foi que ele fez o uso delas durante os regionais (ele terminou em segundo nos regionais do pacífico) e, como não havia dado problema, continuou seu uso durante o CrossFit Games. Num post seu no instagram, ele ainda completa que “é duro estar na parte que recebe a notícia quando eu sei e já presenciei outros atletas de elite no esporte intencionalmente burlando o sistema, se safando com isso & arruinando a integridade do esporte”.
Realmente esse não é um assunto fácil, nem simples de ser lidado. A dúvida que recai sobre os atletas sempre existiu e sempre existirá. Ainda mais enquanto a CrossFit for a responsável pela realização dos testes. Muitas pessoas foram até o instagram do Mathew Fraser, em um post onde ele parabeniza seu amigo Patrick Vellner como o “verdadeiro terceiro lugar”, dizer que eles duvidam que todos os atletas sejam limpos….chamando-o até mesmo de hipócrita. Ora, sem provas, não cabe a ninguém julgar o outro. Talvez se a CrossFit não fosse a responsável pelo teste, mas deixasse na mão da WADA (World Anti Doping Association – associação mundial contra o doping), parte das dúvidas se dissaparia. Mas saiba que todos os testes são sim feitos em um laboratório aprovado pela WADA.
Mas vale também lembrar o recente caso em que um diretor da WADA foi pego ajudando atletas russos a trapacearem…que causou com que toda a equipe de atletismo e halterofilismo russa fosse proibida de competir nos jogos olímpicos do Rio em 2016. Lembrando que a recomendação da WADA era que NENHUM atleta russo pudesse competir. Esse episódio foi muito bem retratato no documentário Ícaro, disponível no Netflix. Vale a pena ver. Inclusive para você ter certeza que muitos dos especialistas dizem que, com bom conhecimento, é sempre possível burlar o sistema. Se o da Wada é assim….
Como proceder? Não há uma resposta para isso. Enquanto houver a busca pela perfeição e meios para chegar lá mais rápido, pessoas usarão. Enquanto a glória e o dinheiro envolvido forem a única motivação, e não apenas o orgulho e a honra, há pessoas que usarão. Deveríamos, então, liberar seu uso e ponto final? Talvez. Mas será que se o fizermos as pessoas não exagerariam e colocariam sua pŕopria vida em risco? Será que não é melhor pelo menos tentar proibir para fazer com que as pessoas pelo menos tomem cuidado extra ao faze-lo?
E sejamos sinceros…conhecemos muitos “pseudo-atletas” nas nossas boxes que tomam esses produtos e não chegam aos pés deles. Não é apenas o produto que faz eles serem quem são. Eles se dedicam muito, treinam muito, e sofrem muito para conseguir atingir esse objetivo….com ajuda ou não. Mas ao mesmo tempo, devemos pensar…o que estamos procurando? A pessoa mais condicionada do mundo? Ou a pessoa com melhores médicos do mundo?
Fontes:
https://s3.amazonaws.com/crossfitpubliccontent/2017CrossFitGames_DrugTestingProgram3.pdf
https://games.crossfit.com/article/ricky-garard-disqualified/teamseries
https://games.crossfit.com/announcement/10464/games
https://www.instagram.com/p/BZ0cR32hh6L/?taken-by=rickygarard
https://www.instagram.com/p/BZ1ZznZh9JD/?taken-by=pvellner
https://www.instagram.com/p/BZ1zZ2qh8hh/?taken-by=nohlsen
https://www.instagram.com/p/BZ1emaWhyi2/?taken-by=mathewfras