Na minha saga de fazer todos se inscreverem para o Open eu de vez em quando encontro uma pessoa que me diz: “eu não, não quero passar vergonha”. E aí eu penso…onde foi que erramos como comunidade? O CrossFit não é para todos? Quando indago o por que que a pessoa acha que vai passar vergonha ela me responde: “ah, eu nem sei fazer DU…”. E? Para isso existe a categoria scale! “Ah, mas que vergonha ser scale….”.
Não. NÃO HÁ VERGONHA EM SER SCALE. A CrossFit sempre pregou em sua plataforma que o esporte é para todos sim. Cada um tem que adaptar à sua realidade…e a CF inclusive tem cursos para ensinar como os coaches devem fazer isso. Sabe por que?
Por que cada um tem sua limitação. Cada um tem sua dificuldade. Cada um tem um background diferente. De vez em quando eu conheço alguém que com menos de um ano de CF faz um snatch de 100 kgs, MU, Butterfly e vira o fodão rapidamente. Bom, eu demorei 6 meses para tirar o elástico na hora de fazer um único pull up. Meu primeiro Fran foi em quase 9 minutos com 65 lbs ao todo e elástico para pull ups. Ainda assim quase morri. Gostaria de ter feito Rx? Claro que gostaria. Mas naquela época foi o melhor que podia fazer. E note que levei quase o dobro do tempo ideal para o estímulo programado para o Fran. Deveria ter feito de outra forma esse treino, mas isso é assunto para outro artigo. E foi por me manter treinando dentro das minhas limitações, mas nunca permanecendo na zona de conforto que consegui evoluir.
Isso é algo importante. Fazer um WOD scale por causa das suas limitações não implica em nunca sair da zona de conforto. O coach Alberto Neto* (@albertonetto) coach da tetracampeã brasileira Anita Pravatti (@anitapravatti) e headcoach da CrossFit Pravatti (@crossfitpravatti) diz que o papel do coach nessas horas é fundamental: “Adaptar não significa que o aluno vai fazer “menos” treino. Na verdade ele vai fazer não somente o mesmo treino como também irá manter a intensidade proposta mas adaptando os movimentos de acordo com sua habilidade para podermos manter os padrões para aquele movimentos. Por isso é essencial o papel do coach nessas horas! Conhecer nossos alunos ajuda a endereçarmos adaptações individuais e assim poderemos tirar o máximo de cada um, não o deixando cair na zona de conforto mas sem forçar em demasia para causar lesão.”.
O que é vergonha, por fim, é ir além do que deveria e se lesionar o tempo todo e ficar sem treinar por causa disso. Claro que acidentes podem acontecer. Mas é mais importante aprender quer todos temos limites e temos que respeitar esses limites. Colocar um Rx no quadro e ferrar a sua lombar, por exemplo, que deveria te colocar no cantinho da vergonha.
Mas e no Open?
Sim, é verdade que uma rep no Rx conta mais que 300 reps no scale. Que para estar no leaderboard competitivo você tem que fazer pelo menos um WOD na categoria Rx. Mas aí cabe a pergunta, é apenas por ego que você vai postar um score de 1 no Rx? Vale a pena mesmo? Por que saiba que se isso acontecer você com certeza já não está no páreo para ir para os regionais, então qual o propósito?
Cabe aqui uma única ressalva, também explicitada pela CrossFit em seu último artigo. Para aquele atleta que está no limiar de conseguir se superar e fazer seu primeiro MU, ou uma carga mais pesada, talvez valha a pena por que o clima do Open é realmente propício para isso. A animação é contagiante e a vontade é imensa e pode acabar saindo o movimento e o aluno tendo um breakthrough. Mas, como disso o coach Alberto Netto, cabe aí ao coach, juntamente com o aluno, chegar à correta conclusão do que fazer.
E então? Vai querer continuar a passar vergonha e se lesionar ou vai pensar no longo prazo?
*Alberto Neto
CrossFit Level 2 Coach
Cursos técnicos pela CrossFit de: Mobility e WeightLifting.
Staff da CrossFit e instrutor de curso lvl 1 da CrossFit