Explicação rápida sobre o titulo do filme antes de começar. Na tradução literal o nome do documentário seria “A que se redimiu e o Dominante”. Mat Fraser seria o dominante, já que passou o trator e venceu do começo ao fim, e a “a que se redimiu” seria Tia-Clair Toomey, que perdeu em 2016 e veio em 2017 pra levar o título.
SOBRE O FILME
Uma das coisas que mais me impressionou ao assistir o documentário desse ano, foi que logo no começo você vê os maiores nomes do CrossFit falando sobre doping.
De cara a primeira coisa que veio a cabeça foi como que eles vão tratar o fato de que o 3o lugar de 2017, Rick Garard, foi pego no exame anti-doping logo após o Games e acabou sendo desclassificado e banido do esporte por 4 anos.
Bom, o documentário já virou uma tradição anual e além de ser muito bem feito e resumir de uma maneira legal tudo que aconteceu durante o Games do ano anterior, o documentário tem o foco em “vender” o esporte para o mundo e o fato do 3o lugar ter caido no anti-doping com certeza mancha o esporte.
Durante o documentário, existem 4 momentos onde o filme para de falar sobre o Games ou os atletas e foca a discussão em drogas usadas para doping.
Ouvimos isso de funcionários da CrossFit, assim como atletas:
- – Rory McKernan: “Essas drogas existem no meio do CrossFit? Sim. Elas afetam os atletas do topo? Não.”
- – Mat Fraser: “Eu não vou dizer que ninguem usa. Se a verdade viesse a tona, você ficaria chocado em descobrir quem toma. E não são os do topo.”
- – Dave Castro: “As pessoas no topo, em sua maioria, não usam”.
O próprio Rick Garard dá uma entrevista durante o documentário, que foi filmada durante o CF Games de 2017, na qual ele jura que nunca usou ou usuaria essas drogas:
“EU PESSOALMENTE NÃO CONSEGUIRIA TOMAR. SE EU TOMASSE, EU NÃO CONSEGUIRIA OLHAR PARA O MEU PAI OU MEU IRMÃO E DIZER EU CONSEGUI”
Esses depoimentos foram obtidos antes do escândalo virar público, obviamente. Ficou muito bem colocada a discussão e achei legal a forma séria e pública com a qual o assuto foi tratado. Afinal eles não podem focar só nisso mas também não podem ignorar o assunto.
[Leia mais: Doping no CrossFit: Ricky Garard perde o terceiro lugar do Games 2017]
Mas Garard não é a estrela do filme. A estrela principal também não é Mathew Fraser, é Tia-Clair Toomey.
A australiana, que é atleta de CrossFit e Levantadora de Peso Olimpico, é quem traz a maior emoção para o documentário. Nos anos anteriores os vencedores do Games, pelo menos nos documentários, nunca demostravam ser pessoas “que passam dificuldades”. Na maioria das vezes são pessoas extremamente agradáveis, super focadas e que só importam em ganhar e que ficariam destruidas caso perdessem. Porem Tia-Clair traz uma vulnerabilidade para o pódio. Ela passa uma imagem de neurótica e insegura. E isso, sendo a mulher que ganhou o titulo de mais FIT do mundo, a torna uma heroína, uma pessoa que você se relaciona, se identifica e acaba torcendo mesmo sabendo que ela ganhou o título.
O maior desafio de Tia não são os outros atletas, mas ela mesma. O documentário volta ao CF Games de 2016 onde ela fala pra ela mesma que provavelmente não iria ganhar. Quando falam pra ela não pensar nisso, ela diz que já aceitou a derrota. Naquele ano ela chegou em 2o lugar. A pergunta é, e se ela tivesse mais confiança, será que ela teria ganhado aquele ano? Isso que fica no ar e molda toda a historia mostrada durante o documentário.
Ela é treinada pelo noivo, Shane Orr. O relacionamento deles é bem focado no filme. Dúvida e nervosismo estão sempre presentes. O filme foca até no medo dela de decepcionar os outros, em particular seu noivo e coach. A relação dos dois cresce durante o filme e como todos ja sabem ela vence no final. Os dois vão as lagrimas, não só porque ela ganhou, mas porque ela superou todas os seus medos. Ela se redimiu.
O documentário tambem foca muito em Mat Fraser, o tal dominante do título. O foco que ele tem em cada evento fica bem óbvio. Enquanto alguns atletas falam que vão pro WOD sem ter muito ideia de qual será e estratégia, ele está constatemente pensando na sua. Em um momento ele fala sobre um WOD onde ele estava perdendo e para ganhar ele teria que fazer um PR de 400m no meio do WOD. Ou seja, não dá. Em outro momento ele comenta o fato do Noah Olsen ter ganho a primeira parte de um WOD, sabendo que ele iria morrer em seguida e ele, Fraser, terminaria vencendo a prova. No geral o documentário enfatiza o quão dominate o Fraser foi durante todo o evento, com os outros no máximo disputando um segundo lugar.
Existem outros momentos interessantes no filme, como por exemplo quando Dave Castro mostra como pensa nos WODs do Games. Outro bem legal é quando os atletas comentam da “roubalheira” no workout “assault banger”, onde alguns arrastavam o bloco com o martelo, e não batiam sempre nele. Em particular Noah Olsen fez isso.
Por focar nas pessoas, nos atletas, em seus medos e decepções, em seus sucessos e conquistas, o filme ficou o melhor de todos na minha opinião até hoje. Vale a pena ver. De verdade. E quem não se apaixonar ou se comover pela Tia-Clair Toomey até o final do filme…é por que realmente tem uma preferência grande por outra atleta.
O filme The Redeemed and the Dominant é dirigido, produzido e escrito por Heber Cannon, Mariah Moore, and Marston Sawyers. A distribuição é feita por Gravitas e está atualmente disponivel no ITunes e no site da The CrossFit Journal(afiliados possuem acesso e se você ja paga pra acessar o Journal, você também pode assistir).
LINKS PARA ASSISTIR:
- iTunes- https://itunes.apple.com/us/movie/the-redeemed-and-the-dominant-fittest-on-earth/id1341011402
- The CrossFit Journal – https://journal.crossfit.com/article/the-redeemed-and-the-dominant