Essa história começou lá em 2013, quando pesquisadores liderados por Steven T. Devor, da Ohio State University, publicaram um estudo um estudo no The Journal of Strength and Conditioning Research (JSCR) que supostamente acompanhou 43 (quarenta e três) participantes através de 10 (dez) semanas de treinamento baseado em “Crossfit”. O estudo é o mais visto de todos os tempos do JSCR.
O suposto estudo, apresentou como conclusão que muito embora o treinamento melhorou significativamente o VO2 Max e a composição corporal, sugeriu que 16% dos participantes tiveram que abandonar o programa devido a “uso excessivo ou lesão”. O estudo mencionou:
“apesar de uma periodização deliberada e da supervisão do nosso programa de treinamento baseado em Crossfit por profissionais certificados, uma percentagem notável dos nossos participantes (16%) não concluiu o programa de treinamento e o retorno para o teste de acompanhamento (…) assim podemos questionar a relação risco-benefício para tais programas de treinamento extraordinários, pois os ganhos relativamente pequenos de condicionamento e de composição corporal (…) não suplantam os riscos de lesão e o tempo de treinamento perdido”
A CrossFit contestou o conteúdo, antes mesmo de o estudo ser publicado, e surgiram discrepâncias na história. Os autores do estudo disseram que o dono da academia onde os participantes estavam treinando, disse que os atletas se lesionaram, enquanto o próprio dono afirmou que não disse nada disso. Outra questão é que a revista que publicou o artigo é da National Strength and Conditioning Association (NSCA), uma empresa que tem como principal lucro também a oferta de cursos para profissionais na área, como personal trainer e afins. E esse parágrafo, em particular, foi uma exigência do editor da revista para aceitar o artigo, de acordo com mo autor.
Em última análise, verificou-se ainda que apenas dois dos onze participantes que não terminaram o programa desistiram devido a lesões, o que é muito menos estatisticamente significativo. O CrossFit processou e a NSCA, que acabou publicando uma correção em 2015. A NSCA foi condenada a pagar a quantia aproximada de US$ 500 mil dólares. Tratamos desse assunto aqui no blog já.
O que tem de novo?
Após alguns meses, e a NSCA processou a CrossFit e o CEO Greg Glassman, assim como Russell Berger e Russ Greene (também conhecidos como “The Russells”, funcionários da CrossFit que administram um blog dedicado a defender a marca de interpretações errôneas).
A NSCA então acusou a CrossFit de difamação comercial e práticas comerciais injustas, alegando, essencialmente, que a CrossFit propositalmente divulgou informações falsas com a intenção de prejudicar a reputação profissional da NSCA e seus negócios.
A queixa descreve nove citações de The Russells e Greg Glassman em que eles descrevem a NSCA como operando uma “ciência corrompida”, como tendo “fabricado” os dados de prejuízo no estudo e ter se envolvido em “fraude científica, acadêmica e tortuosa. ”
Eles também mencionam um vídeo no qual Russell Berger alega que a NSCA é uma organização que “literalmente fez tudo errado sobre fitness e saúde nas últimas décadas.”
Em 26 de maio, o Tribunal Distrital dos Estados Unidos, no Distrito Sul da Califórnia, emitiu uma decisão que corrobora o entendimento da CrossFit.
Afirma que: “A Corte concorda com a Autora de que há ampla evidência de intencionalidade, má-fé ou culpa” e sustenta que a NSCA reteve deliberadamente documentos importantes de processos judiciais anteriores e publicou o estudo original com pleno conhecimento de que estava espalhando informações imprecisas sobre o CrossFit, que é estabelecido como uma marca concorrente. A decisão diz em parte
“é tal como estabelecido que a NSCA tinha uma motivação comercial para fazer a falsa declaração no estudo (…) que o NSCA fez a declaração falsa no estudo com a intenção de prejudicar a imagem da Crossfit junto aos consumidores (…) e que uma perda nas receitas de certificação da Crossfit foi o resultado natural e provável dos dados falsos publicados no estudo.
A NSCA foi condenada a pagar honorários advocatícios à CrossFit em algo em torno de 75 mil dólares.
Nesta semana houve um novo capítulo desta história, a NSCA acionou a sua seguradora ( National Casualty Co.) para pagar as indenizações devidas à Crossfit. No entanto, em 14 de junho, a seguradora da NSCA processou a NSCA.
Na ação a seguradora alega que a cobertura não é devida, pelos seguintes motivos:
1. A NSCA foi sancionada duas vezes por má conduta descoberta.
2. A NSCA cometeu perjúrio.
3. As sanções da questão do juiz Janis L. Sammartino ilustram que a NSCA publicou intencionalmente informações falsas sobre o treinamento do CrossFit.
Trata-se de mais uma vitória da Crossfit Inc. neste embate com a NSCA, reforçando que o estudo que apontava um índice alto de lesividade do programa de treinos da Crossfit, tão divulgado e difundido por esta última, de fato não passou de uma fraude grosseira. Além de ter levado a própria Ohio State University a demitir o professor responsável pela pesquisa.