Um assunto movimentou a comunidade de CrossFit essa semana. Um assunto não. Um vídeo. No vídeo, a menina fazia uma subida na corda, o conhecido rope climb, quando ocorre algo estranho com seu braço e ela berra de dor. O que aconteceu foi posteriormente identificado como uma fratura de úmero.
Para entender melhor esse assunto eu entrei em contato com o Dr. Antônio Krieger, Ortopedista, CRM-PR 22712 RQE 15991 @drantoniokrieger. Ele, que já tinha visto o caso (apesar de não ter atuado nesse específico), explicou para a gente o que aconteceu:
“A fratura que ocorreu no acidente em questão é uma lesão clássica em ossos longos submetidos a torque, causando uma fratura diafisária em espiral. Esta fratura tem até nome descrito na literatura médica: fratura de Holstein-Lewis, descrita no American Journal of Bone and Joint Surgery em 1963. Um exemplo comum de fratura em espiral do úmero é durante uma queda de braço – talvez você já tenha vista algum vídeo destes pela internet.
O que aconteceu no caso da atleta que subia a corda (rope climb) foi exatamente um mecanismo de força tênsil (sustentar o peso do corpo com o braço) associado a um movimento leve de rotação no momento de pegar o embalo para puxar-se para cima na corda. Não precisou de trauma de alta energia para a fratura ocorrer – apenas o posicionamento do braço em situação desfavorável biomecanicamente, e muito azar.
Existem outras comorbidades que poderiam estar associadas à fragilidade óssea, facilitando a fratura em espiral? Sim. Osteoporose, má-nutrição e alterações metabólicas podem contribuir para uma fratura patológica, ou seja, decorrente de um trauma de baixa energia.
Espero que tenha esclarecido!”
Acho que sobre o que aconteceu, para mim ele foi capaz de deixar bem esclarecido mesmo. A questão ganhou proporções imensas quando começaram a querer culpar o CrossFit ou o próprio exercício pelo ocorrido.
Em particular, a comunidade no Facebook “Associação dos Personal Trainers do Estado do Rio de Janeiro” fez um post com o vídeo e deu o seguinte título: “CROSSFIT CRIME AO CONSUMIDOR”.
Óbvio que gerou uma grande comoção e muitos comentários. Vou chamar aqui a atenção do comentário do Francisco Javier Toledo, nosso famoso Chiquinho (@chiquinhocf)), que respondeu o seguinte:
“Vamos proibir o powerlifting que rompe bíceps no Levantamento TERRA, a barra cai no peito dos atletas no supino… vamos proibir o futebol afinal nosso Ronaldo Fenômeno teve uma lesão seríssima na Europa… vamos proibir o judô por que meu Sensei MORREU dentro do tatame… vamos proibir as esteiras por que um aluno MORREUUUUU dentro da academia onde eu frequentava…
🤜🏻 Vamos proibir a corrida afinal quantas pessoas já torceram o pé correndo….
🤜🏻 Vamos proibir o jiu jitsu afinal muita gente quebra o braço por aí…
🤜🏻 Vamos proibir o MMA afinal nosso querido Anderson Silva quebrou as perna na frente de milhões de pessoas do mundo todo…
🛑EUUUU VIVOOOO dentro de uma academia, eu dou aula de Crossfit, musculação, aulas Fitness…
🛑Ao invés de ser SENSACIONALISTA O dono da página poderia jogar a FAVOR DO ESPORTE E lutar contra o maior crime educação física, o sedentarismo…
Espero que a moça se recupere logo…”
Acho que ninguém poderia ter escrito melhor. Acidentes acontecem em qualquer esporte e é óbvio que devemos aprender a lidar com eles e tomar todas as medidas necessárias para proteger os atletas do mesmo.
O HugoCross entrou em contato com Ricardinho Prudente, representante da CrossFit no Brasil e ele nos respondeu que “a gente não deveria estar discutindo o risco de fazer atividade física, a gente poderia discutir o pesadelo que é ficar parado no sofá”. Ele depois afirmou que irá entrar em contato com o departamento jurídico da CrossFit para tratar do caso.
Nós do HugoCross só lamentamos que ainda haja muito preconceito contra a modalidade que, está sim, mudando vidas. Análises precipitadas e irresponsáveis, além de gerar desinformação, dão uma impressão muito grande de oportunismo e falta de ética.