O Processo da CrossFit: o caso da fraude sobre lesões

Com o título de “Crossfit-based high intensity power training improves maximal aerobicfitness and body composition” (Treino de alta intensidade baseado em CrossFit melhora o fitness aeróbico máximo e composição corporal), esse artigo, você poderia pensar, teria deixado a CrossFit super feliz, certo? Mas não deixou….deixou a CrossFit furiosa! E ela processou não apenas a Ohio State University, cujo pesquisador principal Steven T. Devor era professor, mas também a associação responsável pela revista que publicou o artigo e os próprios pesquisadores. Mas vamos entender esse assunto por partes.

Qual era a ideia do artigo?

O artigo analisou no período de 10 semanas 23 homens e 20 mulheres e acompanharam seu desenvolvimento enquanto eles praticavam CrossFit em um box licenciado e com coaches licenciados. Ideia ótima né? Tão bacana que foi inclusive publicada no The Journal of Strength and Conditioning Research (Jornal de Pesquisa sobre Força e Condicionamento).

Eles observaram em quase todos os indivíduos uma melhora significativa do condicionamento aeróbico e uma boa redução do percentual de gordura corporal. O artigo é em sua grande parte elogioso a CrossFit. Contudo, há um parágrafo que a organização não gostou.

Qual o problema desse parágrafo?

Neste parágrafo eles falam que dos 53 voluntários analisados, 11 desistiram antes das 10 semanas.  2 teriam largado por falta de tempo. 9 teriam abandonado a pesquisa por lesão ou excesso de treinamento, o que representaria 16% do total de participantes.

Eles ainda colocam em dúvida se os benefícios do CrossFit compensam os riscos de lesão que a atividade de alta intensidade traria. Esse mesmo parágrafo, de acordo com a CrossFit, foi usado diversas vezes contra a CrossFit em diferentes estudos no mundo todo e inclusive no Brasil, o que teria trazido prejuízo não apenas para a box onde os alunos treinaram mas também para a própria organização CrossFit e suas boxes espalhadas pelo mundo.

Mas e dai? Essa pesquisa tem problema?

Sim. Precisamos ponderar aqui diferentes coisas:

1)      Uma pesquisa com 54 pessoas apenas num universo tão grande de praticantes não pode ser levada como verdade absoluta. Mas isso não torna a pesquisa uma fraude, contudo…

2)      O próprio autor afirmou publicamente que esse parágrafo foi incluído posteriormente a pedido do editor da revista, que considerou essencial essa informação para o aceite do artigo.

3)      Desses 9, apenas dois tiveram algum tipo de lesão. Todos os outros negaram que deixaram o projeto por causa de qualquer tipo de lesão relacionada ao CrossFit.

Isso realmente seria o suficiente para fazer com que a revista retirasse o artigo e o pesquisador fosse punido pela universidade (como de fato foi…se bem que ele acabou pedindo demissão recentemente da Ohio State University, e deu diversas declarações que nunca mais entraria nesse assunto porque se sentiu perseguido).

E a revista? Por que foi processada?

A revista é organizada pela National Strength and Conditioning Association (Associação Nacional de Força e Condicionamento). Essa associação oferece cursos para treinadores e personals, assim como a CrossFit oferece o lvl 1, 2 e vários outros. A CrossFit alegou que eles usaram esse artigo como forma de atacar uma concorrente direta da CrossFit, já que ambas oferecem o mesmo tipo de curso.

Alguns documentos recentes mostram que de fato a NSCA via a CrossFit como concorrente e teve ações ilegais durante o andamento do processo, veja a declaração do juiz:

“Há evidência suficiente para encontrar vontade, má fé, ou falta da NSCA em esconder os documentos recém descobertos e mentir sob juramento nos procedimentos federais” – Juiz Janis L. Sammartino

Se este caso for a júri mesmo, há uma boa chance de vitória da CrossFit.

Ao mesmo tempo….

De fato, a pesquisa teve parte forjada por causa de falsas alegações de lesão onde não houve. Contudo, espero que esse processo da CrossFit não impeça estudos realistas sobre o temas. Pesquisas sérias devem ser sempre incentivadas independente se o resultado é o que desejamos ou não.

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