Melatonina: muito além do sono

Vocês já devem ter ouvido que descanso também é treino, certo? Se não ouviu, deveriam seguir essa máxima. Diante disso e de nossas vidas bastante agitadas, é cada vez mais normal termos menos tempo para descanso. Muitas vezes o pouco tempo que temos não é bem utilizado, seja por dificuldades em começar a dormir ou por dificuldade em manter uma boa qualidade do sono a noite toda.

A melatonina é um hormônio produzido por diversos animais e plantas que, em seres humano, ajuda a regular os ciclos de sono. Algo que se popularizou lá fora, é o ato de tomar a melatonina como uma suplementação, de forma a te ajudar a dormir e melhorar a qualidade do sono.

A Anvisa, Agência Reguladora de Vigilância Sanitária, não permite a venda em balçcões de farmácias, como nos EUA. Mas permitiu que fosse administrada em farmácias de manipulação, desde que prescrita por médico, já que é um hormônio. 

Mas a Melatonina não possui somente relação ao sono e tem diversos outros benefícios desconhecidos pelo público não especializado. Diante disso, convidamos nosso parceiro, Doutor Fábio Crialezi @drfabiocrialezi, para falar mais sobre o assunto.

Segue a matéria:

A melatonina é um hormônio produzida por diversos animais e plantas. Em animais superiores, é o produzido e liberado pela glândula pineal. Esta participa na organização temporal dos ritmos biológicos, atuando como mediadora entre o ciclo claro/escuro ambiental e os processos regulatórios fisiológicos, incluindo a regulação da reprodução, a regulação dos ciclos de atividade-repouso e sono/vigília assim como a regulação do sistema imunológico, entre outros. A pesquisa da melatonina tem experimentado um hiper crescimento nas últimas duas décadas. Isso se relaciona com suas numerosas funções fisiológicas, incluindo anti-inflamação, oncostasis, regulação do ritmo circadiano e endócrino e sua potente atividade antioxidante.

A melatonina é um hormônio pleiotrópico com várias funções. Liga-se a receptores específicos e a várias proteínas citosólicas, ativando uma vasta gama de vias de sinalização. É um hormônio secretado pela glândula pineal e tem efeitos anti-oxidantes e anti-inflamatórios. Os efeitos antioxidantes protetores da melatonina foram repetidamente documentados em estudos experimentais e clínicos. A alternância entre dia e noite é uma flutuação ambiental previsível que os organismos usam para cronometrar suas atividades. Desde a invenção da iluminação artificial, essa previsibilidade foi interrompida e continua a mudar de maneira unidirecional com o aumento da urbanização. Como os hormônios mediam as respostas individuais a ambientes em mudança, os sistemas endócrinos podem ser um dos primeiros sistemas afetados, além de ser a primeira linha de defesa para amenizar quaisquer impactos negativos à saúde. Quatro eixos endócrinos que podem ser afetados pela luz artificial noturna: pineal, reprodutiva, adrenal e tireóide.

Existem inúmeras indicações para o uso da melatonina. Vamos descrever algumas delas baseado nos estudos mais recentes publicados.

SONO

As orientações para trabalhadores noturnos e de turno recomendam que, após o trabalho noturno, eles devem dormir em um ambiente escuro durante o dia. No entanto, permanecer em um ambiente escuro durante o dia reduz a secreção noturna de melatonina e retarda seu início. A exposição diurna à luz do dia após o trabalho noturno é importante para a síntese de melatonina na noite subseqüente e para a manutenção dos ritmos circadianos. Para aumentar a secreção de melatonina e manter seu ciclo convencional de sono-vigília, após o trabalho noturno, os trabalhadores em turnos devem dormir durante o dia sob condições de luminosidade em vez de condições de pouca luz.

JET LAG

A disritmia de vôo, também conhecida como jet lag, é causada pelo vôo global em vários fusos horários. A maioria dos passageiros que sobrevoam seis ou mais fusos horários diferentes geralmente precisam de 4 a 6 dias após viajar para retomar seus padrões habituais de sono e se sentirem menos letárgicos durante o dia. Sinais de jet lag podem variar entre consciência debilitada, insônia, cansaço durante o dia e despertar freqüente durante a noite. A melatonina assume um papel crítico no ajuste dos ritmos circadianos do corpo e foi utilizada de forma restauradora para restabelecer ritmos circadianos alterados.

DISFUNÇÃO ERÉTIL

O estresse oxidativo é considerado um fator importante na etiologia da disfunção erétil e, em muitos modelos experimentais, resultados positivos têm sido obtidos com o tratamento com melatonina. Os níveis séricos de melatonina foram significativamente menores em todos os graus de disfunção erétil. Baixos níveis séricos de melatonina estão associados à disfunção erétil. Portanto, a melatonina pode ser uma nova droga em potencial para o tratamento da disfunção erétil.

PELE

A melatonina reverte o dano oxidativo aos lipídios de membrana e melhora as características biofísicas da pele em ex-fumantes. Após 4 semanas de tratamento, a melatonina administrada por via oral aumentou os níveis de gordura, umidade e elasticidade da pele.

OSSOS

Os efeitos de melatonina na melhora dos ossos por estímulo dos osteoblastos e a melhora na qualidade de vida sugerem que a melatonina é uma terapia de perda óssea segura e eficaz.

HORMÔNIOS

A melatonina atua como um modulador local da atividade endócrina nas células de Leydig. Nas células de Sertoli, a melatonina influencia a proliferação celular e o metabolismo energético e, consequentemente, pode regular a esteroidogênese. Os dados da literatura indicam que a melatonina tem efeitos importantes na esteroidogênese e na reprodução masculina.

CÂNCER

Nos últimos anos, os regimes dietéticos com restrição calórica e compostos como vitaminas, curcumina, extratos de chá verde e ácidos graxos ômega-3 atraíram a atenção por seus potenciais efeitos anticancerígenos. Embora conclusões definitivas não possam ser tiradas neste campo, muitos pacientes adotam terapias antitumorais complementares com o objetivo de melhorar a eficácia ou reduzir a toxicidade da quimioterapia, com benefícios incertos e o risco de toxicidades adicionais ou interações antagônicas com terapias padrão. A melatonina é uma das exceções e já tem seu papel bem estabelecido na prevenção de adventos adversos após quimioterapia ou radioterapia.

ENVELHECIMENTO

A melatonina reduz significativamente a carga de stress oxidativo das células envelhecidas ou das células expostas a toxinas. O dano oxidativo é um resultado dos radicais livres produzidos nas células, especialmente nas mitocôndrias. Existem muitas doenças associadas à idade que têm, como um fator contribuinte, danos causados pelos radicais livres. Essas múltiplas doenças podem provavelmente ser adiadas em seu início ou progressão, se os níveis mitocondriais de melatonina puderem ser mantidos até a idade avançada.

ANTI-HIPERTENSIVO

A melatonina, o principal hormônio circadiano, foi comprovada como um agente anti-hipertensivo adjunto eficaz e seguro. Em apoio a isso, os receptores de melatonina foram identificados dentro do sistema nervoso central e periférico, bem como o sistema cardiovascular, incluindo vários tecidos vasculares. Papel fundamental da melatonina na regulação autonômica da pressão arterial. Em estudos envolvendo seres humanos, controles saudáveis e populações de pacientes com hipertensão essencial e noturna, a administração de melatonina demonstra efeitos hipotensores significativos que produzem resultados clinicamente significativos. No entanto, o mecanismo preciso pelo qual a melatonina provoca seus efeitos hipotensores em humanos requer mais investigação.

OBESIDADE

A hipertensão e a obesidade estão geralmente associadas à inflamação sistêmica e tecidual. O acometimento progressivo dos órgãos-alvo envolve múltiplos mediadores da inflamação, em sua maioria redundantes, o que torna as estratégias antiinflamatórias ineficazes. A melatonina reduz a pressão arterial, o peso corporal e a inflamação. A mitocôndria é um elemento inflamatório fundamental no tecido vascular e adiposo e um potencial alvo farmacológico. A melatonina protege contra a disfunção mitocondrial. Reduz a pressão arterial e a disfunção do tecido adiposo por múltiplas ações anti-inflamatórias / antioxidantes e fornece uma proteção potente contra a lesão mediada por mitocôndrias na hipertensão e na obesidade.

Ou seja, existem inúmeras indicações potenciais de ação para a melatonina além do uso para regularização do sono. Muitas pesquisas ainda estão sendo realizadas e novidades virão por aí em relação a melatonina.

Dr. Fabio Crialezi

CMR-PR 23691 RQE 2834

CRM-MG 60544 RQE 29333

Médico pela Universidade Federal do Paraná em 2007

Cirurgião Geral pelo Hospital Evangélico de Curitiba em 2010

Urologista pelo Hospital Evangélico de Curitiba em 2013

MBA Executivo em Gestão de Negócios em Saúde pela ISAE FGV em 2016

Pós-graduação Master em Ciências da Longevidade Humana pela Faculdade Maurício de Nassau em 2018

Pós-graduando Medicina Esportiva pela CEFIT UNIP

Referências

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