Nos CrossFit Games de 2017 uma bomba foi jogada após o terceiro lugar no individual masculino, Ricky Garard, ter sido pego no exame antidopping. Num esporte ainda recente, foi a primeira vez que um atleta de pódio dos Games foi de fato pego por uso de substâncias proibidas. Ele mesmo postou em seu instagram que outros atletas faziam uso mas nunca apontou o dedo em quem seria.
Esse ano, nos regionais, 14 atletas foram pegos até agora usando substâncias proibidas pela CrossFit. Entre eles, a mais famosa é Emily Abbott, que foi pega com o uso de ibutoren. Ela alegou em uma recente entrevista que seu noivo estava usando de forma sublingual e que ela teria ingerido a substância após beijá-lo. Msmo com concentração baixa, a CrossFit não quis saber e a baniu por 4 anos. Pedimos então para o nosso médico, o Dr. Fábio Crialezi @drfabiocrialezi para escrever um pouco sobre o Doping e algumas das substâncias mais comuns no CF:
Doping é a utilização de substâncias proibidas no esporte que podem tornar o atleta mais forte e mais rápido, sendo considerado trapaça e sendo proibido em torneios e campeonatos, por promoverem o aumento ilícito do rendimento do atleta. Essas substâncias fazem com que os atletas tenham um melhor rendimento físico no esporte, provendo vantagens competitivas desleais em relação aos demais que não as utilizam.
O Crossfit, apesar de recente, tem necessidade de ser reconhecida como modalidade esportiva e necessita credibilidade junto a comunidade internacional, mostrando alto controle antidoping de seus atletas nas competições principais e em suas seletivas. Grande especulação ocorre devido ao alto rendimento dos atletas nas categorias principais do esporte. Será esse alto rendimento trabalho de muitos anos com alimentação adequada, suplementação nutricional, exercícios físicos direcionados por periodização, além do talento de cada atleta? Dúvidas surgem a todo momento e o Crossfit Inc. iniciou testes antidoping regulares nos atletas durante os Games, depois nos Regionals e posteriormente em testes surpresa nos principais e mais condicionados atletas afiliados. No início acreditava-se que eram somente para dar exemplo e quem era pego, normalmente, eram atletas Master e de outros países nos Games. Depois iniciaram-se punições em atletas calouros, inclusive americanos. No momento estão sendo pegos atletas de todas as regionais e muitos atletas, inclusive nacionais, receberam e-mails avisando sobre a possibilidade de serem testados de antidoping a qualquer momento pela Crossfit Inc.
Os atletas de pódio individuais e alguns atletas de equipes coletivas, indicados por sorteio, são obrigados a permitir a análise da sua urina para que se proceda ao exame antidoping. O regulamento também permite a convocação de outros atletas sob suspeita.
O material colhido é separado em dois frascos (prova e contraprova), numerado e encaminhado para o laboratório de análises. No caso de algum resultado positivo, ocorre o pedido para que a contraprova seja analisada. Todo o processo se repete. Se a contraprova confirmar o resultado positivo, há um período de dieito a defesa do atleta e, assim que finalizado a análise, há a divulgação do nome e punição caso necessário.
Algumas drogas são proibidas ALL TIME (TODO O TEMPO) durante treinamento e competição, outras substâncias são proibidas somente na competição e algumas drogas são proibidas em esportes específicos.
ALL-TIME:
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Substância não aprovadas
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Agentes anabólicos
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Hormônios do crescimento, peptídeos hormonais, substâncias relacionadas e miméticos
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Beta 2 agonistas
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Hormônios e moduladores metabólicos
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Diuréticos e agentes mascarados
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Métodos de sangue e seus componentes
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Manipulação física e química, como infusão intravenosa sem indicação médica e de ambiente hospitalar
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Doping genético, uso de células modificadas geneticamente ou modificadores genéticos
IN-COMPETITION:
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Estimulantes
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Narcóticos
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Canabinóides
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Glicocorticóides
ESPORTES ESPECÍFICOS (esportes subaquáticos, automobilismo, arco e flecha, golfe, tiro, esqui):
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beta bloqueadores
Esteróides anabolizantes
São hormônios sintéticos que quando comparados à testosterona, têm maior atividade anabólica. Geralmente são usados por via oral ou injetável. Alguns usuários fazem abuso de preparações farmacêuticas disponíveis para uso veterinário. Por indicação médica são usados no tratamento de doenças como por exemplo da anemia, hipogonadismo e angioedema hereditário, por exemplo. O uso ilícito por atletas, frequentadores de academias ou pessoas de baixa estatura é feito na crença de que essas drogas: aumentam a massa muscular, aumentam a agressividade, diminuem o tempo de recuperação entre os exercícios intensos e melhoram a aparência física. No entanto, o uso abusivo leva a efeitos colaterais graves. É claro que muitos atletas usam essas substâncias sem estarem cientes dos efeitos colaterais, mas a grande maioria tem consciência dos mesmos e as utilizam mesmo assim, em ciclos com dosagem bastante regulada.
Estimulantes
Os estimulantes agem direto no sistema nervoso, fazendo o atleta ficar mais excitado. Os velocistas de atletismo conseguiram melhorar seus tempos com esse tipo de substância. Alguns atletas injetam até um litro de sangue pouco antes da competição. A transfusão aumenta a quantidade de glóbulos vermelhos, melhorando a capacidade de circulação de oxigênio entre as células em até 5%.
Narcóticos
Esses não são usados para melhorar o desempenho, mas para aliviar a dor. São empregados em quase todas as modalidades. Por exemplo, no ciclismo, para diminuir a resposta do organismo à dor devida a um esforço físico excessivo e no pugilismo, para que o atleta possa continuar lutando após sofrer uma lesão. As substâncias mais utilizadas dessa classe são a morfina e seus derivados.
Diuréticos
Os diuréticos são usados pouco antes das provas para desidratar o organismo e diminuir o peso dos atletas. Atletas de boxe, luta, judô e halterofilismo podem usar a substância para atuarem em categorias de peso inferior ao seu. Também são usados para mascarar outras drogas usadas pelos atletas.
Outra substância bastante consumida pelos atletas é o álcool, utilizado para diminuir a ansiedade e como fonte de calorias. Alguns atletas ingerem bebidas alcoólicas com a intenção de aumentar a autoconfiança e a respostapsicomotora, mas vários estudos comprovam que o desempenho acaba diminuindo com essa atitude. O uso de álcool no esporte é lícito, contudo pode ser passível de controle a pedido das Federações.
Apesar de muitos associarem o uso de recursos ergogênicos farmacológicos ao esporte de alto rendimento, a sua utilização incrivelmente espalhou-se em grande escala aos praticantes habituais de atividades físicas, com finalidade ergogênica ou até mesmo estética, o culto ao corpo, à beleza e a aceitação, o que, recentemente chamou-se doping cosmético. Muitas vezes o fármaco é adquirido no comércio ilegal ou no próprio local de treinamento, sem qualquer controle da vigilância sanitária ou mesmo sem a prescrição médica, acarretando efeitos colaterais incrivelmente danosos à saúde.
A eliminação do doping do cenário esportivo mundial parece bastante distante, uma vez que é um fenômeno do esporte, cercado de grandes investimentos, notoriedade e influência da mídia gerando imensas modificações no papel do atleta. Esse comportamento é diretamente incentivado por dirigentes inescrupulosos, empresários gananciosos, treinadores irresponsáveis, médicos do esporte, “amigos” e familiares nem sempre fiéis.