Há pouco menos de três semanas, o primeiro reality show com crosfiteiros foi ao ar no YouTube, o Wodlive. No programa, atletas de elite do CF brasileiro, divididos em times, se enfrentariam em diferentes provas de CrossFit, fitness e brincadeiras. O apresentador do programa foi Fábio Broco. Ele já atuou como um grande parceiro nosso para obter uma entrevista com o Ben Bergeron (coach da Katrin Davidsdottir), e é famoso nas redes sociais por explicar a pronúncia correta dos termos em inglês do CrossFit para o público brasileiro.
Fábio Broco é crosfiteiro. Treina com afinco diariamente e conhece bastante do esporte. Mas Fábio ainda está acima do peso. E por que isso importa? Na verdade isso não deveria importar em nada. Mas para algumas pessoas, até alguns coaches, a presença de Fábio no programa causou estranhamento. Pois ele estaria fora de forma para apresentar um programa de atletas com corpos sarados.
O que essas pessoas não perceberam é que Broco representa a maior parte dos crossfiteiros do mundo. Não é atleta profissional, não é perfeito, não é super sarado e está ali pelo bem de sua própria saúde. Ali ele busca ser melhor, como todos nós buscamos. Então por que a birra? Por que ir lá nos vídeos e simplesmente falar que ele não deveria estar lá por estar acima do peso? O que uma pessoa ganha com a crítica gratuita a outra, não pelo trabalho exemplar realizado, mas pelo jeito que a pessoa é? Recentemente até a atleta Lauren Fischer, que não ostenta uma barriga trincada (mas apenas com uma leve saliência) fez um posto sobre esse tipo de comportamento em sua rede social. Mas…E o que sente e pensa o Broco sobre tudo isso? Veja nas palavras dele:
“Num primeiro momento me senti muito mal ao ler críticas não sobre meu trabalho, mas sobre meu corpo. Até então nunca havia sido preterido ou excluído de qualquer ambiente do CrossFit por estar acima do peso.
Sempre tive consciência que eu não seria unanimidade, afinal nunca tinha tido uma experiência como apresentador.
Porém, não mensurei que em um ambiente no qual me encontrei e me identifiquei eu seria apontado como inadequado por ter “uma boia no meio da barriga”.
O meu maior espanto foi saber que algumas das críticas foram feitas por coaches que em suas contas de Instagram ostentam os termos L1 e L2.
Enfim, no meio da angústia que eu estava sentido nas gravações e não podendo compartilhar com os atletas que estavam confinados e de quem fiquei muito próximo, respirei fundo e entendi que o problema não era meu e sim destas pessoas.
Terminei meu trabalho da melhor forma possível e voltei pra casa pra digerir toda a experiência.
Num primeiro momento, pensei em expor todas os envolvidos postando os comentários (que foram apagados em sua maioria) marcando os respectivos arrobas. Mas, vi que essa atitude geraria um linchamento virtual que não é minha filosofia.
Num segundo momento, decidi passar por cima e fingir que nada aconteceu já que para aqueles que gostam de mim, o trabalho foi excelente. Então, pra que dar destaque pra algo ruim?
Porém, ao fechar os olhos e refletir, lembrei do FABIO BROCO de 2016 que achava que a vida não tinha mais solução. Lembrei daquele Broco com quase 150kg que começou a fazer exercício na varanda de casa por ter vergonha de voltar pra uma academia e ser apontado pelos demais (inclusive, eu filmei esse primeiro exercício pra que eu nunca mais esquecesse de onde comecei). Lembrei então como fui muito bem acolhido pela comunidade do CrossFit quando decidi finalmente pisar numa aula. Lembrei de quão bem recebido e bem tratado sou por todos os coaches e atletas que conheço no Brasil e no mundo. E lembrei que existem inúmeras pessoas que sofrem este tipo de apontamento TODOS OS DIAS. Pessoas que são ridicularizadas e menosprezadas! Pessoas que não se sentem acolhidas. Pessoas que não dão um primeiro passo em busca da saúde por medo de julgamentos. Pessoas que vivem em depressão e que comentários como estes só pioram a situação.
Foi por lembrar disso tudo que eu mudei de idéia e resolvi postar no meu feed sobre o assunto.
Existem questões que precisam ser tratadas e esta é um delas! Não da para fingir que o que aconteceu é normal. Nao da pra dizer que eu tenho que aceitar o que aconteceu. Não da para aceitar que aqueles que devem promover saúde (os coaches) tenham este tipo de comportamento.
O corpo de ninguém deve ser assunto ou motivo de avaliação.
Então, minha mensagem final é: o CrossFit e tudo o que ele oferece (inclusive campeonatos e programas de internet) são para todos! Não importa se você é alto, baixo, gordo, magro, musculoso, atlético, deficiente, jovem ou idoso. O CrossFit é pra você também! Não se sinta intimidado. Você é mais que bem-vindo.
Pode ser q um ou outro destoe, mas não é a regra!
E lembre-se: corpo bonito qualquer academia faz, mas educação e respeito vem de casa!
Seja gentil! Seja um incentivador! Seja MAIS HUMANO.”
Fábio, você é um exemplo que deve ser seguido por todos. Você luta diariamente pela sua saúde, que é o mais importante de tudo. E você, que simplesmente escreveu esse tipo de coisa, uma dica: esse esporte que preza tanto pela comunidade, não tem lugar para você. Nós devíamos era incentivar todas as pessoas fora de forma, precisando dar um jeito na sua saúde, a melhorar a sua qualidade de vida. E o CF pode ajudar nesse sentido. E esse tipo de “body shamming” é péssimo para o esporte, péssimo para a comunidade e pode acabar afastando aquele que mais precisa.
E lembre-se, a própria CF já está fazendo a mudança de seu foco de atletas para qualidade de vida. Então, se o bom senso e a educação não te servem, veja se você se encaixa na filosofia do esporte, ou saia dele.