Em um e-mail recebido pelo suporte dos CrossFit Games, a atleta brasileira Tatá Rebane, que disputou ano passado os Games com o time da Templo SA, recebeu uma notificação de suspensão por tempo indeterminado de todas as competições oficiais ou licenciadas pela CrossFit. O que a deixa de fora da Copa Sur, para a qual a atleta estava classificada com o time Made4 CrossFit Team Treta.
A CrossFit fez uso do apêndice A do livro de regras dos CrossFit Games 2024 que diz que: “A CrossFit se reserva ao direito de terminar a participação de qualquer atleta, coach, staff, voluntário, judge, visitante, apoiador, membro de time, e/ou espectador participando ou vendo qualquer evento patrocinado, sancionado ou apoiado pela CrossFit a qualquer momento, sem nenhuma obrigação ou dever com o indivíduo”.
O motivo da CrossFit tê-la suspendido foi a alegação da continuação dos processos envolvendo Tatá Rebane e a CrossFit, LLC. No mesmo e-mail, a CrossFit diz que o time Treta poderia continuar usando os outros atletas da equipe, porém sem a presença de Tatá. Entramos em contato com Vivi Aiello, que passaria a ser a capitã na ausência da atleta. Aiello nos encaminhou o e-mail enviado pela CF, onde estava explícito que ela era a nova capitã e que o time poderia continuar.
O grande problema para o time, de acordo com Tatá, está no fato de que já estava acertado, à época, que a substituta, a atleta Aline Cabral, iria no individual. De certa forma, isso inviabilizaria a participação do time na Copa Sur. Por isso, Tatá reclama do timing da CrossFit em anunciar essa punição, prejudicando não apenas ela mas os outros membros do time, que não mais disputarão.
Porém o nome Treta não poderia mais ser usado. Segundo informações de dentro da CrossFit, o mesmo acontece também com o Made4 CrossFit Team Tretinha, que também teve que retirar o “Tretinha” do nome.
Entenda o caso
A disputa jurídica entre Tatá Rebane e a CrossFit começou com a morte de seu irmão e responsável até então pela CrossFit Blacksheep. O advogado que a assessorou a época, recomendou que ela entrasse no INPI com o registro do nome CrossFit Blacksheep, que lhe foi concedido. De acordo com a atleta, nem ela e nem seu advogado estavam cientes que não poderiam registrar com o nome “CrossFit”, tanto que o registro lhe foi concedido.
Contudo, um tempo depois a CrossFit, LLC conseguiu o registro do nome no INPI e exigiu que a Blacksheep retirasse o CrossFit de seu registro. De acordo com Tatá Rebane, ela solicitou mais tempo à CF pois já havia uma marca depositada na área de fitness com o nome “Blacksheep”, e que ela estava disposta a retirar o registro assim que a disputa pelo nome Backsheep fosse finalizado. De acordo com a atleta, até um contrato de gaveta foi sugerido para garantir isso. A CF, entretanto, não aceitou e acabou expulsando a CrossFit Blacksheep do seu rol de afiliadas, tanto que ano passado Tatá Rebane competiu e levou a vaga por times na Copa Sur para os Games com o time Treta pela Templo SA.
CrossFit e Tatá voltaram a se enfrentar em processos com a mudança de CrossFit Blacksheep para “Cross Blacksheep Fit”.
Em prints de comunicações enviados pela atleta para o representante da CrossFit no Brasil, ela pede orientação sobre o que fazer para voltar a estar em ordem com a empresa. Em um dos parágrafos ela diz: “Recentemente, a CrossFit processou uma das minhas academias e a mim alegando que minha nova marca ‘Cross Blacksheep Fit’ viola os direitos da CrossFit. Eu estou trocando também essa marca, até por liminar, mas destaco que não quero briga com a CrossFit. Muito pelo contrário: quero continuar sendo uma parceira e difusora da CrossFit no Brasil, como sempre fui”.
E continua:
“Por isso, gostaria de sua ajuda para interceder junto à CrossFit no sentido de aceitar a filiação da minha academia, mesmo que com outro nome, ou, pelo menos, não me desclassificar do CrossFit Games enquanto atleta por questões envolvendo a marca e que sempre estive disposta a resolver.
Temos em torno de mil alunos e, certamente, a CrossFit e eu temos interesses em comum. Apenas gostaria de resolver quaisquer controvérsias existentes e seguirmos como parceiros”.
Um dos pontos da atleta, que já disputou diversos regionais, sancionados, semifinais e os Games em 2023 é que a CF não deveria misturar a Tatiana Rebane empresária com a Tatiana Rebane atleta. Contudo, aparentemente, os apelos não surtiram efeito.
Enquanto a atleta ainda busca uma forma de convencer a empresa, Aline Cabral e Vivi Aiello farão suas inscrições no individual. Se Tatá não reverter, o time Treta não disputará mais a Copa Sur, nem com outro nome.
Talvez a grande disputa entre a CF e Tatá Rebane tenha surgido de fato quando a atleta foi procurada pelo Deputado Estadual Felipe Franco, que ficou sabendo do drama para conseguir o visto de Henrique Moreira para os Games ano passado. Tatá, que sempre foi uma entusiasta do esporte, já tinha sofrido antes com o próprio Henrique e outro atleta seu, Pedro Greco, a dificuldade de se conseguir visto. Ambos tiveram vistos negados para competir nos CrossFit Games. Isso porque CrossFit é uma marca e não um esporte. Não ser um esporte, seja CrossFit, Crosstraining, Functional Fitness e afins traz diversos problemas para os atletas, pois acabam não sendo reconhecidos assim pelos órgãos oficiais.
O lado da CrossFit
A decisão da CrossFit no entanto, foi tomada após uma reunião entre os gerentes, diretores e o CEO da marca para chegar ao veredito final. Entretanto, procurado pela nossa equipe, a CrossFit não quis se pronunciar sobre o assunto e afirmou que o caso está encerrado para a marca.
Ao que tudo indica, a sequência de brigas judiciais travadas e a última empreitada de Tatá contra a marca envolvendo o Deputado Estadual de São Paulo, Felipe Franco, parece ter sido o estopim para que a CrossFit utilizasse do Livro de Regras e tivesse essa ação contra a atleta. Vale ressaltar que dificilmente haverá tempo hábil para que Tatá consiga reverter de fato o caso.
Com isso, será mais certo de que o time Treta não esteja mais no Copa Sur. Porém, não sabemos se, caso confirmado, a Made4 CrossFit saia, se a CrossFit Caserna, que atualmente ocupa a 31ª colocação ganhará uma vaga na semifinal ou se teremos 29 equipes na edição desse ano. Até porque o prazo final de inscrições se encerrou antes que a atleta tenha sido notificada.